segunda-feira, 8 de março de 2010

O SUICÍDIO DE UM "DISSIDENTE" CUBANO*

Mais uma vez fazendo gala de sua proverbial falta de escrúpulos, o jornal El País, de Madrid, informou em sua edição digital de 27 de fevereiro que "a dissidência cubana segue mobilizada pela morte do prisioneiro de consciência Orlanda Zapata Tamayo". Difundida por também por meios brasileiros, a afirmação é tão rotunda quanto falsa, embutida da intenção apenas de jogar água no moinho da permanente campanha de ataques e agressões contra a Revolução Cubana e alimentar preconceitos de uma grande parte dos leitores deste diário, que nem sempre tem tempo, possibilidade ou interesse em conferir a veracidade das informações proporcionadas pelos grandes meios de comunicação.

Felizmente, uma oportuna matéria publicada pelo prestigioso intelectual cubano Enrique Ubieta Gómez permite jogar luz sobre este penoso episódio e desmontar a mentira urdida pelo periódico madrileno e todos os seus semelhantes mundo afora (http://www.cubadebate.cu/opinion/2010/02/26/orlando-zapata-tamayo-la-muerte-util-de-la-contrarrevolucion/).

Como é possível que um "prisioneiro de consciência" cuja identificação com o projeto político que o levou a imolar-se em não trair suas idéias teria passado despercebido pelos atentos olhos da hoje extinta Comissão (de Direitos Humanos da ONU)?

A resposta é bem simples: Zapata Tamayo, nos diz Ubieta Gómez, era um preso comum, cujos problemas com a justiça começaram em 1988, ou seja, quinze anos antes da confecção da famosa lista. Em sua larga carreira delitiva foi processado por "violação de domicílio" (1993), "lesões menos graves" (2000), "furto" (2000), "lesões e porte de arma branca" (2000: ferimentos e fratura de crânio contra uma vítima, utilizando um machado), "perturbação da ordem" e "desordens públicas" (2002), entre outras causas que, como se pode observar, nada têm a ver com o protesto político e são apenas delitos comuns.

Espertamente recrutado por setores da "dissidência política" cubana, sempre desejosa de contar com um mártir em suas esquálidas fileiras, impulsionaram-no irresponsavelmente e com total desprezo pela sua pessoa ao levar adiante uma greve de fome até o final, em troca de sabe-se lá quais promessas ou contrapartidas de todo tipo que, seguramente, o passar do tempo não tardará em esclarecer.

Não existem na Ilha prisões secretas, nem legalização da tortura, tampouco transporte de presos para serem torturados em terceiros países, nem desaparecidos, vôos ilegais, prisões arbitrárias sem prazos e julgamentos e tantas outras práticas que rotineiramente são levadas a cabo nas masmorras estadunidenses, sistematicamente silenciadas e ocultadas pela "imprensa séria", cuja suposta missão é informar. Para a imprensa do império, como o El País, são todos detalhes sem importância.

Negócios são negócios e se é preciso mentir, mente-se uma e cem vezes, com a certeza de que está garantida a impunidade, conferida pela falta de defesa, a crença ou a apatia de seus leitores, anestesiados pela propaganda e cuidadosamente desinformados e embrutecidos pelos grandes veículos de comunicação. Em uma luminosa passagem de "Dezoito de Brumário de Luis Bonaparte", Marx dizia que, diante de sua orfandade, a contra-revolução bonapartista extraía seus quadros e heróis do lumpemproletariado de Paris. O mesmo ocorre em nossos dias com os auto-proclamados sentinelas da liberdade e da democracia em Cuba e seus comparsas na "imprensa séria" internacional. Para isso, se for necessário dizer que Barrabás era Jesus Cristo, dizem. E se é preciso dizer que Zapata Tamayo era um "prisioneiro de consciência" também se diz, pronto e acabou.


O texto foi escrito por Atilio A. Boron. O trecho foi extraído de http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4384/9/

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